
A confiança sempre foi um dos meus maiores desafios. Desde criança, carrego uma insegurança constante, algo que permeia diversas áreas da minha vida. Faz sentido que eu tenha um transtorno de ansiedade generalizada, mas nunca consegui definir com clareza se sou inseguro por ser ansioso ou se sou ansioso por ser inseguro. O fato é que sigo em frente apesar disso. Até tive alta da terapia, vejam só! Mas não posso negar que, em vários momentos, duvidei de minhas próprias capacidades e deixei de aproveitar oportunidades que poderiam ter sido transformadoras.
Foi justamente por isso que a entrevista do neurocientista Ian Robertson ao podcast Ten Percent Happier, do jornalista Dan Harris, chamou tanto minha atenção. Nunca havia parado para pensar que a ciência pudesse investigar a confiança de maneira tão detalhada - e, mais do que isso, que os achados das pesquisas pudessem ter aplicações práticas para alguém como eu.
Robertson explica que ansiedade e confiança estão no mesmo espectro. Em outras palavras, a ansiedade não precisa ser um freio: pode, na verdade, se tornar um combustível para nos impulsionar, criando um senso de propósito mesmo em meio à incerteza. A chave está em como lidamos com esse sentimento.
Outro ponto que me fez refletir foi a ideia de que a confiança não depende apenas de validação externa, mas tem uma base nos valores que cultivamos. Faz tempo que venho pensando sobre isso. O mundo de hoje é veloz, não nos dá espaço para parar e refletir. Mas quanto mais entendo o que realmente me guia, mais percebo que é essa clareza que permite uma navegação mais segura em tempos incertos.
E quando falo sobre valores, não me refiro a um apego ao passado ou a uma visão conservadora. Longe disso. O que quero dizer é que precisamos estar atentos ao que realmente importa para nós, para não nos perdermos no ruído das expectativas alheias. Afinal, saber quem somos e o que buscamos pode ser o primeiro passo para construir uma vida com mais sentido.
Destaquei alguns pontos interessantes da entrevista, veja a seguir:
Repare onde sua atenção está focada
Nosso cérebro tem um viés para identificar ameaças e relembrar fracassos, aumentando a ansiedade. Isso ocorre porque, evolutivamente, estamos programados para priorizar a sobrevivência, e evitar riscos era mais importante do que reconhecer sucessos.
Uma estratégia eficaz para reverter essa tendência é treinar a atenção para focar nos aspectos positivos e nas pequenas vitórias do dia a dia. Pergunte-se: estou olhando para os sinais de progresso ou só para os desafios?
Aja antes de se sentir pronto
Esperar pela confiança para agir é como esperar sentir-se forte antes de começar a treinar. Pequenos sucessos constroem a sensação de capacidade. Dê o primeiro passo, mesmo sem ter certeza.
Robertson menciona que o sucesso gera confiança e, quanto mais agimos, mais reforçamos essa crença em nossa própria capacidade. Esse fenômeno, conhecido como "Efeito Ganhador", explica por que a confiança cresce com a experiência.
Reinterprete a ansiedade
Ansiedade e excitação são estados fisiológicos muito semelhantes. Estudos mostram que, ao reinterpretarmos sintomas de ansiedade como “energia para ter uma boa performance”, conseguimos reduzir seus efeitos negativos. Em vez de ver o nervosismo como um sinal de incapacidade, podemos enxergá-lo como um indicador de que estamos diante de algo importante. Essa mudança de perspectiva pode ser crucial em situações desafiadoras, como falar em público ou enfrentar novos desafios profissionais.
Defina metas alcançáveis
Objetivos inatingíveis geram frustração. Em vez de mirar direto no "grande sonho", estabeleça pequenos marcos que garantam uma progressão contínua. Celebrar pequenas conquistas reforça a crença na própria capacidade e mantém a motivação. O segredo é ajustar os desafios para serem estimulantes sem se tornarem esmagadores.
Conecte-se a propósitos intrínsecos
Pessoas que guiam suas ações por valores internos - como aprendizado, conexão humana ou contribuição para um bem maior - têm confiança mais sustentável do que aquelas que se baseiam apenas em aprovação externa. A verdadeira confiança nasce quando as ações estão alinhadas com o que realmente importa para nós, em vez de serem moldadas pela expectativa dos outros. Quanto mais ancoramos nossas decisões em valores internos, menos dependemos da validação externa para nos sentirmos capazes.
Construir confiança é como construir um músculo: requer treino e paciência. Pequenos passos diários, somados, geram transformações reais. A autoconfiança é um recurso dinâmico, que pode ser fortalecido continuamente à medida que enfrentamos desafios, aprendemos com erros e cultivamos uma visão mais construtiva de nós mesmos. E talvez a chave não seja esperar pela confiança, mas agir e deixá-la vir como consequência.
Se você também se interessou pelo que Robertson disse, vale a pena ouvir a entrevista completa: