Não seja escravo da positividade
A Sociedade do Cansaço e a busca incessante de desempenho
O filósofo coreano-alemão Byung-Chul Han tornou-se conhecido no Brasil sobretudo pelo livro “Sociedade do Cansaço” (2010). E ele acabou virando uma celebridade ao longo dos anos, digno de ser homenageado com diversos cards com suas citações sendo publicados no Instagram. Já comentei sobre esse ensaio, que aborda a exigência de desempenho extremo esperada pela sociedade contemporânea – e, de maneira indireta, faz um chamado ao resgate da contemplação e da desaceleração.
Não por acaso, Han também publicou “Filosofia do Zen-Budismo” (2020), refletindo sobre a importância do vazio e da quietude no mundo moderno. Em essência, Han critica a transformação da vida em uma corrida infinita de produtividade e atividades multitarefa, algo incompatível com a reflexão profunda. Como ele aponta, cada vez mais trocamos a atenção plena e contemplativa por uma “hiperatenção” dispersa, pulando freneticamente de uma tarefa ou informação a outra. O resultado é uma cultura que valoriza estar sempre ocupado, sempre “fazendo” – e considera tempo de ócio ou introspecção quase um pecado.
Psicopolítica e a autoexploração do indivíduo
Menos conhecido do grande público é o livro “Psicopolítica: O neoliberalismo e as novas técnicas de poder”, lançado por Han em 2014. Nele, o filósofo faz uma crítica visionária às formas como, na lógica de produção atual, nós acabamos disciplinando a nós mesmos para sermos mais eficientes. Embora tenha sido publicado há cerca de uma década, o livro é um retrato preciso dos tempos em que vivemos. Han argumenta que deixamos de nos ver como sujeitos subjugados e passamos a nos enxergar como “projetos” livres, em constante reinvenção, o que à primeira vista dá uma sensação de liberdade. Porém, essa liberdade é ilusória: ao nos entendermos como projetos autônomos, acabamos impondo a nós mesmos obrigações internas tão rígidas quanto as antigas coerções externas. Em outras palavras, autoimpomos compulsivamente metas de desempenho e otimização pessoal – trabalhando, produzindo e nos “aperfeiçoando” sem parar. Han escreve: “O ‘eu’ como projeto, que acreditava ter se libertado das coerções externas e das restrições impostas por outros, submete-se agora a coerções internas, na forma de obrigações de desempenho e otimização”.
Han define essa condição moderna como uma positividade excessiva – um estado de espírito em que não se permite a entrada do negativo, especialmente de emoções “desagradáveis” como fracasso, dúvida ou tristeza. Acreditamos que somos totalmente livres para nos autoaperfeiçoar de acordo com nossas metas (sejam elas profissionais, pessoais ou “espirituais”). No senso comum atual, ser livre significaria apenas melhorar a si próprio sem impedimentos. Entretanto, essa melhoria contínua se tornou praticamente uma obrigação interna. A positividade aqui funciona como uma nova forma de coerção, sorrateira e eficaz, pois já não precisamos de ordens externas: nós mesmos nos cobramos continuamente.
Esse fenômeno leva ao que Han chama de sociedade do desempenho ou sociedade do “eu empreendedor”. Cada indivíduo vira um “empreendedor de si mesmo”, simultaneamente patrão e empregado, explorador e explorado. A pessoa assume a responsabilidade total por seu sucesso ou fracasso, como se estivesse isolada do contexto social. Assim, exploramo-nos voluntariamente em nome da performance – e essa autoexploração é mais eficiente para o sistema do que a antiga exploração imposta de fora, pois vem disfarçada de liberdade e iniciativa pessoal. Nas palavras de Han, na sociedade contemporânea os sujeitos deixaram de ser “sujeitos de obediência” para se tornar “sujeitos de desempenho”, que “se autoexploram até entrar em burnout. O explorador é simultaneamente o explorado. Algoz e vítima já não se distinguem”.
A pandemia e a ilusão da produtividade a todo custo
Para tornar isso mais concreto, basta lembrar do período de isolamento social e quarentena que muitos de nós vivemos durante a pandemia de COVID-19. De repente, algumas pessoas se viram com mais “tempo livre” em casa – pelo menos, aquelas privilegiadas que puderam ficar em home office. Rapidamente, surgiu uma avalanche de sugestões de como “aproveitar” esse tempo: fazer cursos online, ler dezenas de livros, entrar em forma, aprender a cozinhar, meditar, fazer ioga, reconectar-se com a família, iniciar um novo hobby ou projeto empreendedor... enfim, evoluir e tornar-se um ser humano melhor. É claro que eu estou sendo sarcástico ao listar essas atividades de forma tão idealizada. Na vida real, estávamos todos preocupados, estressados e exaustos diante de uma crise sem precedentes. No meu texto “Não seja produtivo na pandemia”, elenquei uma série de motivos pelos quais não deveríamos esperar grandes realizações durante um período tão difícil – e por que tudo bem apenas sobreviver a esse momento.
Ainda assim, a pressão social para “ser produtivo” na pandemia foi enorme. Lembro que circulavam histórias inspiradoras (e de gosto duvidoso) citando que Isaac Newton teria descoberto a gravidade durante a quarentena da peste, ou que Shakespeare escreveu Rei Lear durante uma peste em Londres. A mensagem por trás dessas comparações era clara: se você não sair do isolamento tendo criado algo grandioso, o problema é você não estar se esforçando o suficiente. De maneira quase onipresente, fomos inundados por um discurso de que cada minuto ocioso seria um minuto desperdiçado que poderíamos usar para algum “hustle” ou autoaperfeiçoamento. “Parece que cada segundo que eu não dedico a construir um projeto, ganhar dinheiro com um hobby ou melhorar a mim mesmo é de alguma forma um segundo desperdiçado” – diz um relato pessoal citado no Guardian sobre essa cobrança durante o lockdown. Soa familiar?
Essa mentalidade do hustle (“corre”) não nasceu na pandemia, mas ficou mais visível durante ela. Antes mesmo do vírus, já vivíamos imersos em uma cultura que glorifica estar ocupado e produzindo o tempo todo. Nas redes sociais e na mídia, coaches de produtividade, gurus do empreendedorismo e influenciadores fitness vendem a ideia de que devemos trabalhar em nós mesmos sem descanso. Se estamos exaustos, a solução apresentada é ajustar a atitude: acordar mais cedo, pensar positivo, “não dar desculpas”. Durante a pandemia isso atingiu um pico, mesmo com o mundo desabando ao redor. Como observou uma matéria do Guardian, fomos constantemente incitados a usar cada minuto livre com trabalhos extras ou aprimoramento pessoal – e vale perguntar a quem isso realmente beneficia. Afinal, quem lucrava com as pessoas tentando se tornar superprodutivas trancadas em casa?
Excesso de positividade e colapso mental
Byung-Chul Han oferece uma resposta contundente: essa ideologia da produtividade total beneficia o sistema neoliberal, não os indivíduos. A lógica é perversa: se todos acreditam que podem e devem “dar conta de tudo” com a atitude certa, então qualquer falha ou sofrimento vira culpa do indivíduo – nunca do sistema, das condições sociais ou econômicas. Assim, em vez de questionarmos a sociedade ou o sistema, passamos a nos sentir pessoalmente responsáveis por qualquer fracasso e até envergonhados disso. O “fracassado”, escreve Han, “em vez de questionar a sociedade ou o sistema, considera a si mesmo o único responsável e se envergonha”. Nesse modelo, emoções como raiva ou indignação (que poderiam nos levar a exigir mudanças coletivas) dão lugar a um sentimento de insuficiência pessoal. A pessoa pensa: se estou mal, é porque não fiz yoga o suficiente, não segui a dieta X, não fui resiliente ou grato o bastante... Em vez de revolucionários, os explorados se tornam depressivos crônicos, na análise de Han.
Não é coincidência, portanto, que vivamos uma epidemia de transtornos mentais. Antes da COVID-19 já se falava em crise de saúde mental; agora então, parece que a panela de pressão estourou. O colapso é visível tanto em quem perdeu o emprego e renda quanto em quem ficou empregado trabalhando em condições precárias ou em isolamento. A economia capenga, a saúde pública em frangalhos, milhões foram obrigados a se arriscar em trabalhos presenciais essenciais sob estresse constante, enquanto outros milhões ficaram confinados em home office, disponíveis e conectados o dia inteiro – muitas vezes acumulando jornadas ainda mais longas. Estudos confirmam que, durante os lockdowns, as pessoas trabalharam mais horas (em média quase 50 minutos a mais por dia) e participaram de mais reuniões virtuais, justamente por não haver mais fronteira clara entre trabalho e vida doméstica. Não por acaso, uma pesquisa apontou que 7 em cada 10 funcionários consideram a pandemia o período mais estressante de suas carreiras.
Some-se a isso a expectativa social de fazer algo incrível com aquele suposto “tempo livre” na pandemia – escrever um livro, abrir um novo negócio online, transformar o corpo, etc. – e temos a receita para o esgotamento. A cereja do bolo envenenado é a positividade tóxica nos dizendo para ver “o lado bom” de tudo e aproveitar a tragédia para crescer. Fica parecendo que não temos direito ao sofrimento genuíno; como se sentir medo, tristeza ou cansaço diante do caos fosse quase uma falha de caráter. Esse excesso de positividade nos cega para os problemas reais, nos isola em bolhas de autoajuda e nos impede de buscar apoio uns nos outros.
Os efeitos já são mensuráveis. Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde, no primeiro ano da COVID houve um aumento de 25% na prevalência global de ansiedade e depressão – um quarto a mais de pessoas deprimidas ou ansiosas no mundo! Esses números impressionantes dão respaldo estatístico ao que Han diagnostica filosoficamente. Ele argumenta que transtornos como depressão, síndrome de burnout e transtorno de déficit de atenção não são apenas problemas individuais, mas patologias sociais causadas por um excesso de positividade. Vivemos numa época em que impera a ideia de que “nada é impossível” e de que devemos dizer “sim, eu posso” a tudo. Sob essa tirania do “você pode tudo”, as pessoas acabam estabelecendo expectativas irreais para si mesmas – e inevitavelmente entram em um espiral de decepção, exaustão e colapso. Como bem coloca Han, “A violência da positividade não exclui: ela satura; ela não reprime: ela esgota”. Em outras palavras, a overdose de otimismo e de cobrança por produtividade não nos deixa mais felizes nem realizados – ao contrário, nos deixa exauridos mentalmente.
Os sinais desse colapso mental se manifestam de várias formas. A depressão, por exemplo, pode ser vista como o esgotamento de um indivíduo que travou uma guerra interna consigo mesmo em nome do desempenho. Ficamos deprimidos quando a energia para atender às exigências infinitas simplesmente se esvai – quando o corpo e a mente dizem “chega” diante da pressão autoimposta de estar sempre produzindo ou melhorando. O burnout (síndrome do esgotamento profissional) é outra face disso: é literalmente “a sociedade do cansaço” cobrando seu preço. Vale lembrar que estresse e exaustão não são apenas experiências pessoais, mas fenômenos sociais e históricos também. Ou seja, a sensação de estar no limite não é só “fraqueza individual”; é um sintoma de uma era caracterizada por positividade excessiva e disponibilidade total de pessoas e recursos. Estamos sempre “plugados”, sempre acessíveis, sempre tentando otimizar cada minuto – e isso simplesmente não é sustentável.
Do ponto de vista psicológico, já há estudos indicando que essa negação constante do negativo faz mal. Pesquisas mostraram que aceitar emoções negativas (em vez de reprimi-las sob um sorriso forçado) está associado a melhor saúde mental. Sentir raiva, tristeza, medo – e reconhecer esses sentimentos – é parte essencial da experiência humana e do nosso mecanismo de lidar com a realidade. Quando a cultura nos diz para “pensar positivo” a qualquer custo, acabamos por invalidar nosso próprio sofrimento e deixamos de processar frustrações de forma saudável. Um artigo na Scientific American observou que embora emoções positivas sejam valiosas, problemas surgem quando as pessoas começam a acreditar que devem estar alegres o tempo todo. Na verdade, “sentir e aceitar emoções como a raiva e a tristeza é vital para a saúde mental, e tentar suprimir esses sentimentos pode sair pela culatra”. Ou seja, sofrer faz parte – e dizer “não tô bem” às vezes é não apenas legítimo, mas necessário. Quando negamos isso, adoecemos.
Byung-Chul Han chega a sugerir que até mesmo emoções consideradas negativas, como a raiva, têm seu papel positivo: a raiva, no sentido profundo, é a capacidade de romper com um estado insuportável e iniciar algo novo. No entanto, na sociedade da positividade, perdemos até a capacidade da raiva transformadora – sobra só irritação difusa, um rancor impotente que não provoca mudança nenhuma. Tudo isso reforça o diagnóstico: suprimimos o “não” de nossas vidas. Não podemos dizer que algo está errado (seria “reclamar demais”), não podemos reduzir o ritmo (seria “fracassar”), não podemos sequer ficar tristes (seria “ingratidão” ou “vibrar negatividade”). Essa ditadura do sim – do “você consegue, basta tentar mais” – acaba gerando doenças da alma. Como resume Han, “as doenças mentais como a depressão e o burnout são, na verdade, manifestações de uma crise da liberdade”: são sintomas patológicos de que a liberdade foi deturpada em tirania da auto-otimização.
Liberdade: individual ou realização coletiva?
Diante desse cenário, precisamos nos perguntar: qual é, afinal, o objetivo do autoaperfeiçoamento? Melhorar para quê, para quem? Há um propósito maior além do meu benefício individual? Byung-Chul Han sugere que a ideia moderna de liberdade centrada no indivíduo – essa liberdade de empreender a si mesmo, de se autogerir – é uma armadilha sutil. Achamos que ser livres é não ter ninguém mandando em nós; porém, na prática, acabamos obedecendo às ordens invisíveis da produtividade e do consumo. Para Han, a verdadeira liberdade e realização do ser humano só acontecem em comunidade, com um senso de missão compartilhada e destino comum. Ele cita até Marx nesse ponto, lembrando que “ser livre não significa nada mais do que se realizar conjuntamente com os outros. Liberdade é sinônimo de uma comunidade bem-sucedida”. Em outras palavras, a liberdade de apenas cobrar tudo de si mesmo é uma falsa liberdade – porque, isolado, o indivíduo se torna presa fácil das exigências do mercado e do capital.
Sob a lente de Han, aquele discurso de “seja a sua melhor versão” esconde um projeto individualista e até funcional ao sistema. Enquanto cada um de nós fica obcecado em melhorar a si próprio (seja no corpo, na carreira, no humor, etc.), perdemos a percepção de que muitas barreiras ao bem-estar são coletivas. Focamos no eu e deixamos de enxergar o nós. Daí a sensação de estarmos todos sozinhos em nossas ansiedades – quando, na verdade, elas têm raízes sociais comuns.
A filósofa e escritora Barbara Ehrenreich, em sua crítica à cultura do pensamento positivo, observou exatamente isso: a obsessão em pensar positivo e atribuir sucesso ou fracasso apenas à atitude pessoal acaba servindo para culpar os indivíduos pelos infortúnios que têm origens sociais. Em “Smile or Die”, ela aponta que essa moda de felicidade compulsória muitas vezes só beneficia as corporações e os poderosos, ao manter trabalhadores exaustos achando que falta neles “pensamento positivo” em vez de questionarem salários ruins ou jornadas abusivas. Promover a ideia de que “a felicidade depende só de você” é conveniente para um sistema que quer nos fazer engolir injustiças com um sorriso. Nas palavras de Ehrenreich, “dizer que a felicidade está ao seu alcance interessa às empresas que querem ludibriar uma força de trabalho sobrecarregada e mal paga”. Assim, se algo deu errado, é porque você não se esforçou o bastante ou não pensou positivo o suficiente – nunca porque o contexto era perverso. Essa lógica isola as pessoas em bolhas de autoaperfeiçoamento e abafa qualquer crítica coletiva às estruturas de poder.
Retomando as perguntas fundamentais: por que sofremos tanto? Por que trabalhamos tanto? Por que espera-se de nós que sejamos “melhores” o tempo todo?. São perguntas inquietantes, mas necessárias. Em vez de olhar apenas para o próprio umbigo tentando “otimizá-lo”, talvez devêssemos direcionar o olhar para fora e questionar o que, afinal, gera tanto sofrimento generalizado. Quando cada um de nós tenta enfrentar sozinho a pressão para dar conta de tudo, acabamos adoecendo em silêncio – sentindo vergonha de confessar o cansaço ou a tristeza. Mas quando entendemos que não estamos sós e que há um componente sistêmico nessa angústia difusa, podemos buscar saídas mais solidárias.
A ideia aqui não é pregar o derrotismo ou dizer que não vale a pena se desenvolver como pessoa. Querer ser alguém melhor não é ruim em si – pelo contrário, grande parte da filosofia e da arte humana nasce desse anseio. O problema é quando essa busca vira uma casca vazia, desconectada de qualquer propósito maior que transcenda o eu. Se o meu suposto progresso não alimenta nenhuma perspectiva social, comunitária ou coletiva, ele corre o risco de ser apenas mais uma forma de alimentar o sistema que exige minha produtividade. Em vez de libertador, esse aperfeiçoamento vazio me torna prisioneiro de mim mesmo.
Portanto, é hora de refletir criticamente sobre a tirania da positividade e da produtividade tóxica. Não precisamos estar otimistas o tempo todo nem render 200% diariamente para ter valor. Há um poder revigorante em às vezes dizer “não estou bem”, em reconhecer limites, em ter um dia improdutivo, em compartilhar vulnerabilidades com os outros. Isso não é fracasso – é humanização. Afinal, ser livre, no sentido mais pleno, talvez signifique “estarmos juntos realizados”, e não cada um por si em uma bolha de eficiência solitária. Recuperar o direito de sentir e de falhar pode, paradoxalmente, nos devolver a saúde mental e o senso de comunidade perdidos. Em última instância, não ser escravo da positividade é permitir-se ser humano por inteiro – com dias bons e ruins – e reencontrar no coletivo o sentido que falta ao mero sucesso individual.
Ótimo! Vou preparar uma lista de referências com links acessíveis sempre que possível, incluindo artigos jornalísticos, papers abertos e relatórios, além de livros importantes que fundamentam o texto, mesmo que estes não estejam disponíveis gratuitamente online.
Referências
Livros
Han, Byung-Chul (2017) – A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Editora Vozes. (Ensaio filosófico sobre a sociedade do desempenho e o aumento de doenças psíquicas na era da positividade excessiva).
Han, Byung-Chul (2015) – Psicopolítica: Neoliberalismo e Novas Técnicas de Poder. Lisboa: Relógio D’Água Editores. (Análise do neoliberalismo e do controle psicológico na sociedade contemporânea, complementando as ideias da “sociedade do cansaço”).
Han, Byung-Chul (2021) – Sociedade Paliativa: A Dor Hoje. Petrópolis: Editora Vozes. (Reflexão sobre como a sociedade atual busca eliminar a dor e a negatividade, aprofundando a crítica à “positividade” que anestesia o sofrimento).
Ehrenreich, Barbara (2010) – Smile or Die: How Positive Thinking Fooled America and the World. Londres: Granta Books. (Livro investigativo que denuncia a ideologia do pensamento positivo nos EUA – publicado nos EUA em 2009 como Bright-Sided – expondo os malefícios do otimismo forçado na cultura, saúde e economia).
Brinkmann, Svend (2022) – Positividade Tóxica: Como Resistir à Sociedade do Otimismo Compulsivo. Rio de Janeiro: Editora BestSeller. (Tradução brasileira da obra do psicólogo dinamarquês que critica a obsessão contemporânea por autoaperfeiçoamento e pensamento positivo a qualquer custo, propondo a aceitação das emoções “negativas”).
Artigos de Jornais e Revistas
Waters, Jamie (2022) – “Don’t insist on being positive – allowing negative emotions has much to teach us.” The Guardian (Life & Style), 24 de abril de 2022. (Explora a tendência da “positividade tóxica” e destaca, com base em novos livros e especialistas, os benefícios de aceitar emoções negativas em tempos difíceis – escrito no contexto pós-pandemia).
Aggeler, Madeleine (2024) – “How important is a positive mindset, really?” The Guardian (Wellness), 3 de janeiro de 2024. (Discute o valor de manter uma atitude positiva vs. os riscos da positividade tóxica, citando psicólogos e estudos científicos sobre otimismo, saúde física e mental, e fazendo referência à popularização do termo “toxic positivity”).
Lilienfeld, Scott O. & Arkowitz, Hal (2011) – “Can Positive Thinking Be Negative?” Scientific American, edição de maio de 2011. (Artigo de divulgação científica que resume pesquisas mostrando os limites e efeitos adversos do pensamento positivo irrestrito – cita, por exemplo, Barbara Ehrenreich e estudos psicológicos sobre otimismo excessivo).
Chiu, Allyson (2020) – “Time to ditch ‘toxic positivity,’ experts say: ‘It’s okay not to be okay’.” The Washington Post (Wellness), 19 de agosto de 2020. (Reportagem em meio à pandemia de COVID-19 alertando contra o excesso de positividade. Traz depoimentos de psicólogos clínicos e dados recentes de saúde mental, reforçando que aceitar vulnerabilidades e “não estar bem” é normal e mais saudável do que negar emoções negativas).
Murray, Jenni (2010) – “Smile or Die by Barbara Ehrenreich – review.” The Guardian (Books), 9 de janeiro de 2010. (Resenha do livro Smile or Die, de Ehrenreich, destacando a importância da obra ao criticar o culto ao pensamento positivo, especialmente na cultura do câncer de mama e no ambiente corporativo).
Relatórios e Documentos Oficiais
Organização Mundial da Saúde (OMS) (2022) – World Mental Health Report: Transforming Mental Health for All. Genebra: OMS. (Relatório mundial de saúde mental lanç ado em junho de 2022, compilando evidências atualizadas sobre a prevalência de transtornos mentais, impactos da pandemia de COVID-19 e orientações para transformar políticas de saúde mental globalmente – disponível em várias línguas).
Organização Mundial da Saúde (OMS) (2022) – “COVID-19 pandemic triggers 25% increase in prevalence of anxiety and depression worldwide.” Comunicado de imprensa da OMS, 2 de março de 2022. (Resumo de um briefing científico da OMS indicando que, no primeiro ano da pandemia, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%. O documento destaca os grupos mais afetados e a necessidade urgente de reforçar serviços de saúde mental).
Organização Mundial da Saúde (OMS) (2019) – “Burn-out an ‘occupational phenomenon’: International Classification of Diseases.” Atualização da CID-11, 28 de maio de 2019. (Comunicado oficial da OMS definindo burnout como um fenômeno ocupacional relacionado a estresse crônico no trabalho, incluído na CID-11 – clarifica que burnout não é classificado como condição médica, padronizando sua definição em três dimensões: exaustão, cinismo ou distanciamento mental do trabalho, e eficácia profissional reduzida).
Organização Mundial da Saúde (OMS) (2020) – “Mental Health and COVID-19: Early evidence of the pandemic’s impact.” Genebra: OMS. (Relatório breve publicado em 2020 que reúne as primeiras evidências sobre os impactos da pandemia de COVID-19 na saúde mental global. Aponta aumento de estresse, ansiedade, isolamento social e recomenda incorporar apoio psicossocial nos planos de resposta dos países – link: who.int/publications). [Obs.: Relatório citado no ensaio caso tenha sido mencionado o impacto da pandemia na saúde mental segundo a OMS].
Estudos Acadêmicos e Artigos Científicos
Bittencourt, Renato Nunes (2023) – “A positividade tóxica do culto da performance e a asfixia gerencial da dor.” Revista Espaço Acadêmico (UEM), v.23 n.241, p.61-71, jul./ago./set. 2023. (Artigo acadêmico em filosofia/ciências sociais que analisa criticamente como a narrativa gerencial e a cultura da performance perpetuam a “positividade tóxica” nas organizações, silenciando o sofrimento e exacerbando o esgotamento (burnout) dos indivíduos. Referencia autores como Byung-Chul Han, Svend Brinkmann e outros teóricos contemporâneos na discussão).
Ford, Brett Q., et al. (2018) – “The psychological health benefits of accepting negative emotions and thoughts: Laboratory, diary, and longitudinal evidence.” Journal of Personality and Social Psychology, 115(6), 1075-1092. (Estudo psicológico que demonstra, com evidências experimentais e longitudinais, que aceitar emoções negativas – em vez de suprimi-las – está associado a melhor saúde mental. Os resultados sugerem que pessoas que não se julgam por sentir tristeza ou ansiedade e que não evitam esses sentimentos apresentam menores níveis de depressão e maior bem-estar ao longo do tempo).
Cyr, Samuel et al. (2021) – “Factors Associated With Burnout, Post-traumatic Stress and Anxio-Depressive Symptoms in Healthcare Workers 3 Months Into the COVID-19 Pandemic: An Observational Study.” Frontiers in Psychiatry, vol.12, Artigo 668278 (jul. 2021). (Pesquisa aberta com profissionais de saúde no Canadá, três meses após o início da pandemia, medindo prevalência de burnout (51,8% dos participantes), transtorno de estresse pós-traumático (24,3%), ansiedade (23,3%) e depressão (10,6%). O estudo identificou fatores de proteção como resiliência e suporte organizacional, e conclui recomendando ações para mitigar o esgotamento e cuidar da saúde mental desses trabalhadores em contextos de crise).
Shipp, Hannah G. & Hall, Katherine C. (2024) – “Analyzing the concept of toxic positivity for nursing: A dimensional analysis approach.” Journal of Advanced Nursing, 80(8), 3146-3157 (publicado online em 19 jan. 2024). (Artigo que analisa conceitualmente o termo “positividade tóxica” na área de enfermagem, mapeando suas dimensões – Supressão Emocional como dimensão central, subdividida em falácia lógica e gratidão forçada, além de Otimismo Irreal e Felicidade Dissimulada. Conclui que a positividades forçada é consistente em diferentes contextos e sugere que reconhecer esse fenômeno no ambiente de trabalho da enfermagem pode ajudar a enfrentar o burnout e melhorar o bem-estar dos profissionais).