Ser cínico ou não; eis a questão
Como o pessimismo pode virar cinismo rapidinho — e algumas ideias para ver o lado bom das coisas sem virar um Poliano
Sempre tive dificuldade em ver o mundo com otimismo. Essa é uma característica que me acompanha desde criança, e as faculdades de Ciências Sociais e de Jornalismo não ajudaram em nada. Pelo contrário, elas reforçaram uma visão crítica — ou melhor, cínica — que é difícil de abalar.
Fico me perguntando: sou ansioso porque sou pessimista ou sou pessimista porque sou ansioso? Um verdadeiro dilema de Tostines. O problema é que o pessimismo, quando a gente menos espera, se transforma em cinismo. E eu já caí nessa armadilha, acreditando que o mundo era todo uma porcaria, que não havia esperança. O resultado? Fiquei paralisado, desanimado e com uma visão turva de tudo ao redor.
A questão é que lutar contra esse ciclo é uma batalha diária. Continuo sendo realista, mas tento não cair no cinismo. É cansativo viver desconfiando de tudo e de todos. Tenho preferido deixar que as coisas ruins e as pessoas ruins se revelem sozinhas, sem gastar meu tempo e energia me preparando para elas.
Sentimento de superioridade
Foi por isso que um texto do The New York Times, chamado “Don’t Fall Into the Cynicism Trap”, chamou minha atenção. A jornalista Jancee Dunn traz insights de Jamil Zaki, diretor do Stanford Social Neuroscience Lab, e autor do livro “Hope For Cynics: The Surprising Science of Human Goodness”.
Ele fala sobre como o cinismo pode nos dar uma sensação de segurança e superioridade, mas nos empurra para um poço de esgotamento e doenças, de depressão a problemas cardíacos. E o pior: o cinismo costuma estar errado.
Dr. Zaki defende uma postura mais saudável: ser um “cético esperançoso”. Ou seja, alguém que reconhece os problemas do mundo, mas também vê e valoriza o lado bom das pessoas. É o oposto do cínico, que não acredita em ninguém e acaba se fechando em uma redoma, sempre esperando o pior de tudo e todos.
Viés de negatividade
Um dos pontos mais interessantes é o tal do negativity bias (viés de negatividade). Nossa mente dá muito mais atenção a eventos negativos do que positivos, o que distorce a nossa percepção do mundo. Então, falar das boas ações que testemunhamos — mesmo que pareça bobo — pode fazer a diferença. Publicar, comentar e compartilhar gestos de bondade ajuda a combater o cinismo em nós e nos outros.
Em vez de pré-julgar e se fechar, o texto nos incentiva a correr pequenos riscos e se abrir para as pessoas. O cinismo pode até parecer protetor, mas também nos impede de viver experiências emocionais mais profundas e recompensadoras.
Concluindo: a vida, afinal, não é só feita de tempestades. Às vezes, deixar o guarda-chuva em casa e arriscar pegar um pouquinho de chuva é exatamente o que a gente precisa para perceber que ainda há muito sol por aí. Afinal, se tem algo que o cinismo não suporta é a combinação inesperada de um sorriso e um pouco de esperança.