Quem tem medo de antidepressivos?
Eu com certeza tinha. E, até hoje, nossa relação é complicada. Mas eles podem nos ajudar a dar uma certa estabilidade e seguir vivendo.
Quando comecei a tomar antidepressivos, há quase dez anos, um pensamento não me deixava em paz: será que eles iam mudar quem eu era? Já tinha ouvido de tudo – desde críticas ao uso dos medicamentos até histórias de dependência e "apagar" de emoções. No fundo, só queria sair daquele buraco escuro e voltar a me sentir eu mesmo.
Hoje, sei que essa preocupação é comum. Antidepressivos não mudam quem você é, mas podem mudar como você se sente. Imagine uma nuvem densa e pesada desaparecendo; o que antes parecia impossível, como sentir alegria, pode finalmente acontecer.
Mas há nuances. Nem tudo são flores, e a chamada "amortização emocional" pode surgir, como uma espécie de bloqueio. Isso não significa que algo esteja errado; é só mais uma etapa que, com o ajuste certo na dose ou medicação, pode ser contornada.
Outra preocupação que muitas pessoas têm é o peso – literal e figurativo. "Vou engordar?", "Vou sentir algo imediatamente?", "Vou precisar disso para sempre?" São perguntas que carregam tanto medo quanto curiosidade.
A resposta? Depende. Cada organismo reage de um jeito, e a chave está em conversar com profissionais, ajustando o tratamento às suas necessidades. Engordei muito quando passei a tomar antidepressivos e até hoje luto para me manter saudável, embora tenha perdido bastante peso nos últimos anos.
O começo pode ser difícil
E sim, o início pode ser desconfortável. Efeitos colaterais, mudanças no corpo ou até aquele "será que está funcionando?" podem surgir. É muito comum que seja necessário um período de adaptação ao remédio escolhido pelo psiquiatra. Pode durar dias, semanas ou meses. Paciência é essencial.
Mas, para mim, o mais valioso foi entender que antidepressivos são uma ferramenta – não uma bengala, nem uma muleta. Eles ajudam a reconstruir o que parecia perdido, mas não fazem o trabalho sozinhos. Terapia, apoio e auto-observação completam o ciclo.
Se você já pensou em desistir por medo ou estigma, saiba que não está sozinho. O que importa, no fim, é o que ele te coloca num patamar mínimo para reorganizar a vida. Para alguns, é uma combinação de caminhos. Para outros, um só é suficiente. E para todos, o foco precisa ser o bem-estar.
O que me ajudou foi aceitar que pedir ajuda não me fazia menos eu. Pelo contrário, foi como recuperar partes que eu tinha esquecido.
(Inspirado pelo artigo "Antidepressant Facts and Misconceptions" de Christina Caron, publicado no The New York Times em 6 de dezembro de 2024, e por experiências pessoais sobre saúde mental.)
Muito bom o texto. E uma discussão interessante é entender quem precisa e quando. Tive um episódio de burnout, anos atrás, no pior emprego que tive na vida (que surpresa, hein?). A empresa tinha psicólogo e médico psiquiatra internos, fiz uma consulta. A médica receitou um antidepressivo imediatamente, depois de meia hora de conversa. Acabei não tomando e fiquei com a pulga atrás da orelha: quando é necessário? Como se pode definir quem precisa ou não? Ou, ainda, essa receita era no interesse do empregado ou da empresa? Essas questões me pegaram mais do que o receio com os possíveis efeitos. Nunca tomei antidepressivo e a psicanálise me ajudou muito em seguida, ajuda até hoje. Fico pensando como seria se eu tivesse seguido com a receita da médica.