Quando o pessimismo passa dos limites e afeta o mundo
Como a negatividade excessiva pode distorcer nossas decisões, moldar a sociedade e impedir um olhar mais equilibrado para o futuro

Trilha sonora do texto: Stuff Smith - “Tain't no use”
Aqui no Respiro, já conversamos sobre como o pessimismo e o cinismo podem prejudicar nosso bem-estar (veja abaixo). Mas esses sentimentos não afetam apenas o lado pessoal; eles também moldam como enxergamos o mundo ao nosso redor e até como as sociedades lidam com problemas coletivos. Quando olhamos demais para o lado negativo, arriscamos criar uma visão distorcida da realidade – e isso pode trazer consequências sérias.
Um estudo recente da Universidade de Berkeley dá um exemplo interessante sobre isso. Pesquisadores analisaram as previsões feitas por cientistas políticos sobre eventos considerados ameaças à democracia e descobriram um viés claro para o pessimismo. Em média, eles acreditavam que certos eventos negativos tinham 44% de chance de acontecer, mas, na prática, apenas 10% deles se concretizaram. Especialmente em áreas como relações internacionais e teoria política, o foco nos piores cenários mostrou ser um dos grandes responsáveis por erros de previsão.
O desastre parece inevitável
Por que isso acontece? Andrew T. Little, um dos autores do estudo, explica que profissionais que dedicam suas carreiras a estudar problemas – como autoritarismo ou erosão democrática – acabam vendo essas ameaças como mais prováveis do que realmente são. É como se, ao passarem tanto tempo analisando o que pode dar errado, eles começassem a acreditar que o desastre é inevitável. Essa visão, mesmo que tenha a intenção de alertar, pode atrapalhar, levando à priorização de problemas que talvez não sejam tão urgentes assim.
Se você já foi chamado de "pessimista", como eu, talvez entenda o dilema. Cresci ouvindo esse rótulo e, por muito tempo, achei que esperar pelo pior era uma forma de estar preparado. Mas a verdade é que tanto o pessimismo paralisante quanto o otimismo exagerado podem nos levar a tomar decisões ruins. Adotar uma postura mais realista – que equilibra os riscos e as oportunidades – é uma maneira de evitar erros, manter os pés no chão e lidar melhor com as incertezas.
Tanto o pessimismo paralisante quanto o otimismo exagerado podem nos levar a tomar decisões ruins
Ouça o consenso
O estudo de Berkeley também sugere uma solução interessante para lidar com o viés pessimista: consultar várias opiniões e buscar um consenso entre especialistas. Essa abordagem tende a ser muito mais confiável do que confiar em vozes isoladas que levantam alarmes extremos. Ao considerar diferentes perspectivas, conseguimos ter uma visão mais clara do que realmente importa e evitar cair em alarmismos.
Então, como encontrar esse equilíbrio em um mundo que parece nos bombardear com notícias ruins o tempo todo? Acho que o primeiro passo é aceitar que a vida é complexa e que nem tudo é tão simples quanto parece à primeira vista. Reconhecer que as coisas raramente são tão ruins ou tão boas quanto prevemos nos ajuda a manter a calma e tomar decisões mais acertadas.
No Respiro, nossa intenção é justamente ajudar você a navegar por essas incertezas. Não se trata de ignorar os desafios, mas de olhar para eles com clareza, sem desespero, e encontrar caminhos viáveis. Buscar equanimidade na vida.
É ao cultivar esse equilíbrio que fortalecemos não apenas a nossa saúde mental, mas também a capacidade de construir um futuro mais justo e resiliente – tanto para nós mesmos quanto para toda a sociedade.